A reportagem acompanhou inicialmente o caso de Luckas Viana. Ele foi atraído por uma proposta de trabalho nas Filipinas, mas acabou levado para Mianmar, onde foi mantido sob constante ameaça. Lá, foi conduzido ao KK Park, um gigantesco complexo conhecido por explorar vítimas de diversos países. Vídeos publicados nas redes sociais mostram cenas de tortura supostamente ocorridas nesses locais (veja no vídeo acima). Embora não seja possível confirmar a veracidade das imagens, sobreviventes identificaram semelhanças com o que viveram. A única imagem de tortura que a reportagem conseguiu verificar foi a de um brasileiro. Brasileiros relatam drama após serem aliciados por rede internacional de tráfico humano no Sudeste Asiático — Foto: Reprodução/TV Globo Após quatro meses de angústia, Luckas foi finalmente repatriado. Ao chegar ao Brasil, ele relatou o que enfrentou: “Eles bateram na gente no último dia. Fiquei preso por 17 horas com os braços abertos, depois sentado por mais oito horas”, relatou Luckas. Brasileiros relatam drama após serem aliciados por rede internacional de tráfico humano no Sudeste Asiático — Foto: Reprodução/TV Globo Recrutamento e tortura Outros brasileiros também foram vítimas do esquema. Diego Lima contou que foi recrutado para trabalhar como tradutor. Ao chegar ao destino, descobriu que o trabalho envolvia jogos online ilegais manipulados para as pessoas perderem dinheiro. “A plataforma é feita para não pagar. Não existe pagamento, nunca se ganha.” Segundo Diego, as vítimas eram submetidas a torturas para realizar o trabalho. “Se você não consegue atingir as metas é atingido com armas de choques, bastão elétrico, ficar dias sem comer, em quarto escuro, somente apanhando até você decidir realmente cumprir as metas e aí você volta ao convívio normal”, afirmou. Atualmente, Diego vive escondido com medo de represálias. “Todo o tempo eu recebo ameaça. Hoje ninguém sabe onde eu vivo, minha família não sabe. Então, é todo o tempo tentando me esconder e fazer com que minha vida tome um rumo mais tranquilo. Mas eu não quero que nenhuma família, nenhum pai, nenhuma mãe veja seu filho sofrendo o que eu sofri.” Brasileiros relatam drama após serem aliciados por rede internacional de tráfico humano no Sudeste Asiático — Foto: Reprodução/TV Globo A rede de aliciadores A investigação revelou que o esquema envolvia diversos brasileiros. Rodrigo Machado, citado por dezenas de vítimas, é apontado como responsável por recrutar pessoas para trabalhar em empresas fraudulentas. “Ele ganhava R$ 4 mil por cada pessoa que chegava lá”, disse uma das vítimas. A reportagem procurou Rodrigo para falar sobre as acusações contra ele. “No caso, os brasileiros que eu chamei no começo, tiveram opção e saíram. Foram rápidos. Dá para contar no dedo e era uma empresa normal. Não sou nenhum recrutador, quero deixar isso bem claro”, afirmou Rodrigo. Rodrigo afirma que foi secretário de Fabiana Magante nas Filipinas. Em entrevista ao Profissão Repórter, ela o acusou de envolvimento com tráfico humano. “O Rodrigo é o maior traficante, cara. Foi ele que começou toda essa empreitada”, disse Fabiana. Fabiana e a sócia Karen Silva negaram acusações feitas por dezenas de vítimas que apontam seus nomes como recrutadoras de uma rede internacional para tráfico humano na Filipinas. Vídeos nas redes sociais mostram Rodrigo recepcionando brasileiros no aeroporto — Foto: Reprodução/TV Globo Condenação e esperança de justiça O caso de André Cunha, condenado a 18 anos de prisão por tráfico internacional de pessoas e associação criminosa, trouxe esperança às vítimas. Antes de ser preso, André também foi recrutado para trabalhar na Tailândia, mas acabou em Mianmar. Lá, fez um acordo com a organização criminosa chinesa para aliciar outros brasileiros em troca de dinheiro. “Estou me sentindo aliviada. Espero que ele cumpra a pena toda”, afirmou uma das pessoas traficadas. A condenação de André foi considerada um marco. Segundo Stelle Scampini, coordenadora da Unidade de Combate ao Tráfico Internacional de Pessoas do Ministério Público Federal, mais de mil processos foram abertos desde a criação do órgão, há um ano. “A gente tem uma realidade no Brasil de muitos casos acontecendo, alguns sendo investigados, poucos processados e quase nenhum condenação, infelizmente”, afirmou. André Cunha foi condenado a 18 anos de prisão por tráfico internacional de pessoas e associação criminosa — Foto: Reprodução/TV Globo O Ministério das Relações Exteriores afirma que a Embaixada do Brasil em Bangkok tem conhecimento dos casos citados e vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando assistência consular cabível. A nota diz ainda que em 2024 foi prestada assistência a 63 brasileiros em situação de tráfico de pessoas, dos quais 41 no Sudeste Asiático. Veja a íntegra do programa no vídeo abaixo: Tráfico Humano – Edição de 07/10/2025 Confira as últimas reportagens do Profissão Repórter: