A tentativa de fraude no Exame Nacional da Avaliação da Formação Médica (Enamed) incluía a ida dos suspeitos ao banheiro durante a prova para receber as respostas das questões em dispositivos eletrônicos. Lá, segundo as investigações da Polícia Federal, eles anotavam o gabarito e voltavam para preencher o cartão de respostas. O esquema foi descoberto, e um grupo de oito pessoas preso durante a Operação R1, realizada no domingo (19), em Juiz de Fora. Além do uso de equipamentos eletrônicos, o esquema contava também com falsificação de documentos. Dentre os detidos, estão médicos e “laranjas” contratados para fazer o exame no lugar dos candidatos. Os nomes não foram informados. Grupo preso pela PF tentava fraudar prova de residência médica com aparelhos eletrônicos em Juiz de Fora — Foto: Polícia Federal/Divulgação 🔍 Como funcionava o esquema De acordo com a Polícia Federal, o grupo agia de forma organizada e contava com duas linhas principais de atuação. Em ambas, o objetivo era receber as respostas da prova por meio de dispositivos eletrônicos, como celulares e relógios inteligentes. Veja abaixo como o grupo operava: Modus operandi: os candidatos usavam minicelulares ou smartwatches escondidos para receber as respostas. A comunicação acontecia, principalmente, durante idas ao banheiro, onde os suspeitos acessavam as mensagens com as respostas e depois anotavam no cartão de prova. Foi nesse momento que a fraude foi descoberta e os equipamentos apreendidosDuas frentes de fraude: o grupo atuava tanto na transmissão de respostas quanto na falsificação de documentos para incluir “laranjas” entre os participantesCopiadores: três pessoas se inscreveram com documentos falsos apenas para copiar as questões. Após cerca de uma hora de exame, elas saíram do local e foram a um hotel, onde resolveriam as perguntas com a ajuda de um médico ainda não localizadoTransmissão: do hotel, as respostas eram enviadas eletronicamente aos candidatos verdadeiros, que permaneciam nas salas de prova em Juiz de ForaLaranjas: em dois casos, não eram os candidatos reais que faziam a prova, mas sim pessoas contratadas para estar no lugar deles, usando documentos falsificados e transmissoresCandidatos beneficiados: três médicos formados foram apontados como os principais beneficiados do esquema. Eles tentavam garantir uma vaga em programas de residência médica com o resultado fraudado. Grupo é preso por esquema que tentava fraudar prova de residência médica em Juiz de Fora — Foto: PF/Divulgação A ação contou com apoio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsáveis pela aplicação do exame. Em nota, o Inep disse que trabalha em parceria com a PF e as autoridades competentes nas ações de combate a tentativas de fraude nos exames. “Desde o início da Operação R1, todas as medidas necessárias foram tomadas para a proteção dos processos e a integridade da aplicação do Enamed, que transcorreu com sucesso em todo o país e foi aplicado para 92% dos mais de 96 mil inscritos”. 🔍O Enamed é uma prova aplicada pelo Inep que avalia os estudantes concluintes de Medicina, com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais. Seu objetivo é medir a qualidade da formação médica no Brasil e subsidiar melhorias nos cursos. O exame também pode ser usado como etapa classificatória para o Enare, processo seletivo nacional de residência médica. Participam estudantes do último ano e médicos formados. A aplicação busca garantir maior transparência e qualidade no ingresso à residência médica. Prisões e apreensões A operação resultou na prisão de oito pessoas: Cinco foram detidas no local da prova, sendo quatro homens e uma mulherTrês foram presos em flagrante em um hotel de Juiz de Fora, onde realizavam a transmissão das respostas Um médico local apontado como colaborador na resolução das questões não foi localizado, mas já foi identificado pela polícia. Também foi cumprido um mandado de busca e apreensão na residência de um dos suspeitos, no Rio de Janeiro. Todos os equipamentos apreendidos, como celulares, relógios, pontos eletrônicos e documentos falsos, foram encaminhados para perícia técnica. Operação R1 prendeu grupo que tentava fraudar prova de residência médica em Juiz de Fora — Foto: Gabriel Landim/TV Integração Pena pode chegar a 10 anos de prisão Os investigados podem responder por fraude em certames de interesse público, associação criminosa e falsidade ideológica. As penas somadas podem chegar a 10 anos de reclusão, além de multa. As investigações continuam, e a PF espera identificar novos envolvidos a partir da análise dos materiais apreendidos e dos depoimentos colhidos. VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes
Como funcionava esquema do grupo que tentava fraudar prova de residência médica em Juiz de Fora
Como funcionava esquema do grupo que tentava fraudar prova de residência médica em Juiz de Fora