Moody’s mantém classificação do Brasil estável e diz que avanço depende de controle de gastos

Moody’s mantém classificação do Brasil estável e diz que avanço depende de controle de gastos

A Moody’s afirmou, em relatório divulgado nesta quarta-feira, que a economia brasileira tem mostrado resiliência diante das tensões comerciais impostas pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — especialmente após o recuo parcial do republicano. Veja os vídeos em alta no g1: Veja os vídeos que estão em alta no g1 Para a agência, apesar dos desafios impostos pela política comercial de Trump, o efeito das tarifas mais altas dos EUA sobre a economia brasileira tem sido limitado. No relatório, a Moody’s também destacou que o perfil de crédito do Brasil se apoia em uma economia ampla, diversificada e de exposição limitada a choques externos. Ponderou, porém, que o país enfrenta limitações provocadas por “por altos pagamentos de juros, rigidez nos gastos e aumento da dívida”. Ainda segundo a agência, reformas estruturais adotadas por diferentes governos nos últimos anos fortaleceram os investimentos e melhoraram as perspectivas de crescimento, mas a polarização política ainda freia os avanços na reforma fiscal e na consolidação das contas públicas. “A classificação soberana do Brasil poderia ser elevada se surgisse consenso entre formuladores de políticas e Congresso para avançar reformas mais profundas nos gastos”, diz o texto. Como exemplo dessas reformas, a Moody’s cita medidas que: reduzam a vinculação de receitas (ou seja, que flexibilizem o Orçamento);diminuam a indexação de benefícios sociais ao salário mínimo (isto é, que os valores pagos deixem de ser reajustados automaticamente sempre que o piso nacional aumenta);”além de reformas nos benefícios da Previdência Social, o que “criaria espaço fiscal e melhoraria o perfil de crédito do país” “De forma mais ampla, reformas macroeconômicas que aprimorem o arcabouço de política monetária, levando a uma transmissão mais eficaz, também ajudariam a reduzir a vulnerabilidade da posição fiscal do Brasil a ciclos de aperto monetário”, pontuou. Logo da Moody’s na sede da empresa em Nova York — Foto: REUTERS/Brendan McDermid Nota subiu em 2024 A classificação indica um “grau especulativo”, o que, segundo as agências de risco, aponta que o Brasil está menos vulnerável ao risco no curto prazo, mas segue enfrentando incertezas em relação a condições financeiras e econômicas adversas. Em outras palavras, o Brasil não tem o chamado “selo de bom pagador”, classificação que sinaliza menor risco de calote para quem investe em títulos do Tesouro Nacional. Veja abaixo a posição do Brasil pelas principais agências: Veja as notas de crédito do Brasil (ratings) em todas as agências de risco — Foto: Kayan Albertin/Arte g1 Como funcionam as notas de crédito As agências têm uma longa escala de classificação, com mais de 20 notas. Quanto mais alta a posição, mais eficiente, confiável e robusta é a economia — e menor o seu risco. Há ainda uma divisão em duas “prateleiras” principais: Grau de investimento;Grau especulativo. O grau de investimento é um selo de qualidade que assegura aos investidores um menor risco de calotes. A partir da nota de crédito que determinado país recebeu, os investidores podem avaliar se a possibilidade de ganhos (por exemplo, com juros) compensa o risco de perder o capital investido com a instabilidade econômica local. O grau especulativo surge quando o país perde o selo de bom pagador, porque as agências deixam de dar sua chancela de segurança para um investimento. Nessa situação, é comum que o país perca também possibilidades de investimento. Alguns fundos de pensão internacionais, de países da Europa ou Estados Unidos, por exemplo, seguem a regra de que só se pode investir em títulos de países que estejam classificados com grau de investimento por agências internacionais. “Ter esse selo, portanto, facilita a atração de capital. E à medida que o país recebe mais recursos, ele amplia sua liquidez e sua capacidade de realizar investimentos”, explicou ao g1 Alex Nery, professor da FIA Business School. Na história, o único período em que o país obteve selo de bom pagador foi entre os anos 2008 e 2015. A entrada ou saída do grau de investimento é definida pelas agências de risco a partir de fatores como o nível das reservas internacionais, cenário fiscal e estabilidade política. De acordo com analistas de mercado, historicamente, um país que perde o selo de bom pagador costuma levar de 5 a 10 anos para recuperar. O Brasil já está a nove anos no grau especulativo. A trajetória da nota do Brasil ▶️ A chegada ao grau de investimento As agências internacionais Fitch Ratings e S&P deram grau de investimento ao Brasil pela primeira vez em 2008, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já a Moody’s concedeu o selo em 2009. Com as alterações, o país passou naquela época a ser reconhecido como um destino mais seguro para investimentos estrangeiros. Na ocasião, a S&P atribuiu a elevação da nota brasileira à mudança na política econômica do país — especialmente com a redução da dívida externa — e à melhora das perspectivas de crescimento. “Um mercado de consumo maior, com crescimento do mercado de capitais e da formalização dão sustentação às intenções de investimento”, afirmou, na época, a S&P. Para a Fitch, a concessão do selo de bom pagador foi resultado da “dramática melhora dos resultados do Brasil nos setores externo e público, que reduziu enormemente a vulnerabilidade do país a problemas externos e a choques de câmbio”. “[Além disso, o Brasil] fortificou a estabilidade macroeconômica e aumentou as perspectivas de crescimento a médio prazo”, informou a agência em nota oficial. Veja o histórico das notas na imagem abaixo: Histórico das notas de crédito do Brasil — Foto: Kayan Albertin/Arte g1 Em 2011, o país subiu mais um degrau na classificação de bom pagador pelas três agências. Já era o início do governo de Dilma Rousseff (PT). Já a Moody’s seguiu a mesma linha e enfatizou os ajustes fiscais promovidos pelo país. A agência apontou que o governo vinha se mostrando disposto a reverter políticas expansionistas e a adotar uma posição mais conservadora e consistente com um crescimento sustentável. A expectativa da agência também era de queda na relação dívida/PIB do Brasil, em conformidade com as metas fiscais do país na época. ▶️ Perda do grau de investimento A S&P foi primeira a retirar o selo de bom pagador do Brasil, em setembro de 2015. A ação foi seguida pelas agências Fitch, no mesmo ano, e pela Moody’s, em 2016. Foram dois anos de intensa crise econômica, depois do fim do manejo de preços no governo de Dilma. A S&P seguiu a mesma linha e destacou, na época, que o país passava por uma deterioração nas contas públicas, enquanto enfrentava desafios políticos. Aquele ano foi marcado, entre outros pontos, por discussões em torno de um ajuste fiscal e de uma reforma política.

Postagens relacionadas

Trump descreve ataque contra militares perto da Casa Branca como ‘ato de terror’; governo irá investigar como terrorismo

Anvisa aprova vacina brasileira contra dengue, a primeira do mundo em dose única

Brasil tem 53 mil servidores públicos que ganham acima do teto do funcionalismo; em 12 meses, despesa chegou a R$ 20 bilhões