Sinal raro no centro da Via Láctea pode ser primeira evidência direta de matéria escura, aponta estudo

Sinal raro no centro da Via Láctea pode ser primeira evidência direta de matéria escura, aponta estudo

A análise, assinada pelo astrônomo Tomonori Totani, da Universidade de Tóquio, usou dados mais recentes do telescópio espacial Fermi, da Nasa, para identificar um brilho de raios gama com características compatíveis com o que modelos teóricos preveem para a destruição de partículas de matéria escura. Segundo o trabalho, aceito para publicação no “Journal of Cosmology and Astroparticle Physics”, a emissão aparece como uma espécie de “halo” de alta energia em torno do centro galáctico, uma região onde a concentração desse tipo de matéria é considerada maior. Totani afirma que o espectro da radiação coincide com a faixa de energia esperada quando duas partículas hipotéticas chamadas WIMPs colidem e se anulam, liberando fótons extremamente energéticos. 🌌 ENTENDA: Um fóton é uma partícula de luz, só que sem massa e sem carga elétrica. Ele é a menor unidade possível de energia luminosa, algo tão pequeno que só percebemos quando muitos chegam juntos. Alguns fótons têm pouca energia, como os da luz comum, e outros têm energia altíssima, como os do estudo. As WIMPs (sigla em inglês para “partículas massivas que interagem fracamente”) são uma das principais candidatas para explicar a matéria escura. Elas seriam mais pesadas que um próton, se moveriam lentamente e quase não interagiriam com a matéria comum, razão pela qual nunca foram detectadas diretamente. A única pista possível seria justamente esse tipo de radiação resultante da colisão entre duas delas. O estudo analisou raios gama de cerca de 20 gigaelétron-volts, um nível de energia muito alto, que aparece distribuído de maneira simétrica ao redor do centro da galáxia. Para reduzir interferências, a pesquisa excluiu o plano da Via Láctea, região rica em poeira, gás e Fontes intensas de radiação, e considerou apenas o halo superior e inferior ao núcleo (veja a IMAGEM abaixo). Mapa de raios gama mostra apenas o halo da Via Láctea na direção do centro galáctico. A faixa cinza indica o plano da galáxia, retirado da análise por concentrar uma radiação intensa. — Foto: Tomonori Totani, Universidade de Tóquio Totani argumenta que a distribuição espacial do sinal é coerente com o formato previsto para o halo de matéria escura. Ele afirma que outros fenômenos astrofísicos conhecidos, como pulsares ou nuvens de gás muito energizadas, não explicam facilmente esse padrão. “Se essa interpretação estiver correta, seria a primeira vez que conseguimos ‘ver’ a matéria escura”, disse o pesquisador em um comunicado. “Isso também indicaria que estamos diante de uma nova partícula ainda não incluída no modelo padrão da física.” Apesar do entusiasmo, Totani reconhece que os resultados precisam ser verificados por outros grupos de pesquisa. Uma das formas de testar essa hipótese é procurar o mesmo tipo de sinal em galáxias anãs próximas, que também são ricas em matéria escura, mas têm menos fontes de radiação que podem confundir os dados. Colagem mostra seis colisões de aglomerados de galáxias acompanhadas por mapas de matéria escura, usados para estudar como essa matéria se comporta durante os impactos. — Foto: Wikimedia/Domínio Público O telescópio Fermi, lançado em 2008, já observou dezenas dessas galáxias, mas a quantidade de fótons ainda é pequena para análises conclusivas. Caso seja confirmado, o achado abriria caminho para uma nova fase da cosmologia e da física de partículas, já que a natureza da matéria escura permanece um dos maiores mistérios científicos do último século. Até agora, ela só podia ser percebida indiretamente, a partir de efeitos gravitacionais em estrelas, galáxias e aglomerados. Fotógrafo do RS faz imagem incrível de cometa ‘mais brilhante do ano’

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